segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Era uma vez uma menina que estava na barriga da mãe.

Os dias para ela, eram muito engraçados. Passava-os a boiar de um lado para outro. Às vezes queria brincar com as mãos e com os pés, mas não conseguia porque os balanços da mãe a embalavam e ela acabava por adormecer. às vezes ouvia vozes lá fora. Conseguia distinguir 4 com facilidade. A da mãe, que falava muito. Uma voz mais grossa, que devia ser do pai, uma vozinha mais fininha, que devia ser da irmã e outra que era mais um som esquisito, que fazia: miaaauuuu.

Ela não conseguia perceber nada do que ouvia, mas percebia quando estavam zangados, ou quando estavam alegres e se riam.

O que ela gostava mais de ouvir, eram 2 coisas. Uma era a mãe a cantar. Todo o seu corpo estremecia. A água onde boiava toda tremia e isso sabia-lhe muito bem. A outra coisa que ela gostava de ouvir mais, era a vozinha fininha da irmã a falar baixinho, como se estivesse a dizer um segredo. Tinha pena de não perceber o que ela lhe estava a dizer. Mas percebia que a irmãzinha gostava muito dela.

A sua vidinha assim corria até que um dia teve uma dor forte. Todo o seu corpinho estremeceu. Estava com convulsões e ela não percebia nada do que se estava a passar. A barriga da mãe apertava-se de forma regular e quase que parecia que ficava mais pequena.

Ela esperneava, mas parecia que isso só fazia com que a cabeça se metesse cada vez mais numa parte mais apertadinha. Foi um tormento que ela não estava a perceber. De repente sentiu que a cabeça tinha acabado de passar a parte mais apertada, e estava mais pesada. E viu muita luz, muita luz. O corpo também já não estava apertado. Agora estava toda esticadinha, sem saber onde pôr as pernas e os braços, mexia-os muito, mas estavam muito pesados. Estava cheia de frio. Tanto frio. Chorava, chorava. Tudo lhe doia, o peito, a barriga, os olhos, os ouvidos... Mas o que lhe estava a contecer? Onde estava o líquido, o embalo, as vozes? De repente ficou mais quentinha e ouviu a voz da mamã. Ficou um bocadinho mais descansada, a sua mãe estava por ali. Ela queria abrir os olhos e ver a mamã, mas havia tanta luz que só a via muito desfocada.

A menina habituou-se às dores que tinha. Aliás estas foram passando. Até porque descobriu que a mamã deitava um líquido para a sua boca, que cheirava muito bem e que sabia ainda melhor. Despois dormiu, para descansar daquela agitação toda.

Estava desejosa de ver a cara da irmã, daquela vozinha fininha que lhe contava segredos. A cara do pai, aquela voz mais grossa e a cara da outra voz que era esquisita, aquela que fazia: miaauuu.


7Novembro2008